1/24/2008


Chennai, 25 de janeiro de 2008.


Estamos na Índia há mais de dez dias, e passamos por três cidades até agora: Mumbai, Hyderabad e Chennai.

Os primeiros dias em Mumbai, também conhecida como Bombaim, foram impactantes. Perdemos horas no trânsito-  e como já dissemos, o trânsito é definitivamente mais estressante que no Brasil - e as localizações não são as mais simples de se chegar (ninguém conhece os lugares pelos endereços, e sim pelos pontos de referência). Na chegada do primeiro vôo (Maria Fernanda, Fernando e Nina), por exemplo, as três da manhã, o nosso motorista se perdeu. Quase não tinha ninguém nas ruas, mas tudo bem, depois de rodar um pouco chegamos ao hotel.

O reencontro da equipe nos fez virar a noite, atualizando um pouco os últimos acontecimentos (tanto do projeto como da vida). A diferença de oito horas do Brasil acabou deixando todo mundo um pouco alterado nos primeiros dias, com dificuldade de acordar e dormir cedo.

A primeira visita que fizemos foi ao Aavishkaar Micro Venture Capital, empresa com a qual tínhamos grande expectativa em conhecer. Vineet Rai, seu fundador, é fellow Ashoka, e também é o empreendedor da Intellecap, consultoria para empresas em multiple bottom line. Aavishkaar significa inovação. E o fundo de investimentos apoia empresas sociais na Índia, dando suporte à gestão nos primeiros anos, para viabilizar a sustentabilidade das mesmas. O total investido em 13 empresas até agora foi de 5.97 milhões de dólares, com retorno de 8 a 12% com projeções de crescimento pros próximos anos.

Diversas questões se mostraram relevantes no entendimento das empresas que o fundo investe. Como escolhê-las? Como garantir que tenham de fato um fim social e não puramente econômico? Mesmo com as respostas do empreendedor, a visita a três das empresas apoiadas nos fez entender melhor que tipo de impacto eles almejam ter. 

Aqui em Cheenai, onde ficamos até domingo, pudemos visitá-las e entender exatamente o que Vineet queria dizer com os critérios de selecão das empresas investidas (socialmente impactante, ambientalmente amigável e comercialmente viável). Um exemplo é uma empresa que desenvolveu um caixa eletrônico para público de baixa renda, todo adaptado - com idiomas locais, aceita moedas amassadas, preparado para instituições de microcrédito, com identificação de digital, que reduz para menos de 10% o consumo de energia se comparado ao caixa eletrônico normal. Como as instituições de microcrédito estão em crescimento, e, em média em dois anos as pessoas podem ser incluídas no sistema bancário, os bancos precisam se adaptar a essa grande inclusão, da forma mais sustentável possível. O sistema, todo desenvolvido por técnicos indianos, é simples, barato, economiza muita energia, e abre uma nova fronteira na inclusão digital.

Chennai é uma cidade semi-urbana - o que nos aproximou de um lado da Índia pouco visível na industrial Hyderabad. Além de muito verde, praias lindas, e um calor parecido com São Luís do Maranhão (úmido), a cidade foi uma das atingidas pelo tsunami em 2004, e alguns locais na beira mar continuam destruídos - em outros, construções de pau a pique e palha ocuparam o lugar que foi abandonado, provavelmente pelo medo de um novo acontecimento daquele tamanho.

A cultura indiana parece lidar de uma outra forma com a deterioração das coisas, como num processo natural de ciclo de vida. Isso porque enquanto os prédios, construções, ruas vão com o tempo se desgastando e deixando a cidade feia, não podemos dizer que não existe a cultura do belo - muito pelo contrário. A beleza está nas roupas, nas maquiagens, nas pratas, nos outdoors, nos mercados, nas pessoas, nas crianças, na comida, nos templos... É como se o que fosse vivo e sagrado tivesse necessariamente que ser bonito e cuidado. Todo o resto vai se degradar com o tempo.

Hyderabad é uma cidade mais cuidada, com canteiros nas ruas, calçadas mais arrumadas... talvez pela sua riqueza, e por ser uma cidade com tantas empresas e indústrias que estão se expandindo para o mundo. As pessoas são bem acolhedoras e se animaram com o filme. Lá pudemos conhecer a SKS MicroFinance, a terceira maior instituição de Microfinanças da Índia, com 1,3 milhões de clientes. Visitaremos uma das comunidades em que a SKS trabalha em Calcuta, dentro de poucos dias. Ir a campo tem motivado a equipe.

O modelo do microcrédito é um dos principais exemplos de empresas sociais, por estar focado em reversão de pobreza e ao mesmo tempo gerando lucro. O empreendedor da SKS, Vikram Akula, trabalhava numa ONG de microcrédito, que não conseguia expandir sua atuação devido à dificuldade de captação de recursos. Ele estudou em Chicago e lá desenvolveu o modelo da SKS, que utiliza grupos de mulheres, como o Grameen Bank, com retorno financeiro facilitando a expansão para toda a Índia. Vikram é bastante jovem e dinâmico, e pudemos perceber em seu discurso o quanto a reversão de pobreza é uma questão central em sua vida. Foi uma das entrevistas mais emocionantes para a equipe.

Vale lembrar que os sites das experiências que visitaremos encontram-se em link no Blog. 

Comentários e sugestões são bem-vindos! E um super obrigado aos parceiros, amigos e familiares, que estão viajando conosco, e contribuiram para todas as descobertas que queremos dividir com vocês!


Um comentário:

Unknown disse...

Pessoal,
Antes de mais nada eu gostaria de parabenizá-los pelo grande esforço feito desde o desenvolvimento do projeto até a realização atual do documentário que eu sei que está sendo um pouco difícil. Vocês não estão apenas fazendo algo por por uma causa nobre, mas por uma causa urgente.
Resolvi escrever para incentivá-los, pois tem várias pessoas torcendo por vcs e principalmente pelo projeto.
MTA FORÇA E CRIATIVIDADE PRA ENFRENTAR O DIA A DIA!!

BEIJÃO A TODOS E especial à Féfi!!

Juliana Minieri

O que é um Negócio Social?

Organização cuja missão é explícitamente de transformação social e que para isso adota estratégias de negócios geradoras de renda como principal veículo para atingir seu propósito social, impactando diretamente a vida de populações fragilizadas. Pode assumir um modelo com ou sem finalidade lucrativa, mas sua autonomia financeira é dada pela atividade-fim da empresa. Os principais campos de atuação são: alimentação, serviços financeiros, acesso à energia e água potável, desenvolvimento econônomico, saúde, etc.