Kalkota, 31 de janeiro de 2008.
Estamos em Kalkota, de passagem para Bangladesh.
Madurai foi bastante intenso - com visitas a comunidades, hospitais, e muitas entrevistas. A experiência do Aravind Eye Hospital é incrível, e eles nos receberam super bem. É um hospital muito grande e com muita gente circulando - responsável por 5% de todas cirurgias oftalmológicas feitas na Índia. Ao mesmo tempo, os pacientes pagantes e os não pagantes tem acesso a um serviço de qualidade, e, você só paga se puder e quiser (não há triagem por renda).
Mesmo assim, o hospital consegue se expandir financiado pelas suas próprias operações - muito bom para um país que tem 10% da população com cegueira tratável. Além disso, um médico no Aravind Eye Hospital é aproximadamente dez vezes mais produtivo que outros médicos. O lado social do hospital está muito integrado na estrutura do negócio. Cada paciente pagante cobre dois não pagantes - e mesmo assim, o preço da consulta e tratamento é menor que o do mercado, e a qualidade super reconhecida.
Apesar de terem uma estrutura extremamente profissionalizada, e instalações como de uma multinacional, tanto o Aravind e o Aurolab (principal fornecedor de materiais) são sem fins lucrativos. Foi muito impressionante para toda a equipe perceber a extensão do trabalho do hospital e ter contato com os pacientes. Outros dados nos alertaram para a importância do empreendimento: a expectativa de vida depois da cegueira, na Índia, é de que o paciente viva por apenas dois anos e meio.
Estar em Kalkota para nós foi uma experiência relâmpago (só ficamos hoje). Essa parada necessária para tirar visto para Bangladesh e nos prepararmos para um novo país, nos fez voltar ao hospital, já que um dos nossos integrantes da equipe não estava se sentindo bem. É a segunda vez que acontece, e os hospitais daqui realmente nos impressionaram positivamente - mesmo que burocráticos. Estamos bem e preparados para a próxima escala.
Em Bangladesh visitaremos a joint venture Grameen Danone Foods, em Bogra. Mais que uma visita, há um clima de ansiedade na equipe, já que a empreitada de Yunus no Grameen Bank e o Prêmio Nobel da Paz foi um dos pontapés para o início do Projeto. Será uma passagem relâmpago, de três dias. E, sem dúvida, um dos pontos altos da viagem.
Por último, as descobertas culturais não param de aparecer. O casamento por aqui é em sua maioria arranjado e atualmente, principalmente nas cidades, as mulheres tem mais chance de opinar sobre o escolhido pretendente - algo impensável para nós no Brasil. Me (Nina) perguntaram se eu me casaria por amor ou se meus pais estavam procurando alguém para mim (vinte anos é a idade ideal para casamentos acontecerem aqui). As mulheres ficaram surpresas com as respostas, e uma delas até me contou sobre o seu possível casamento por amor, e como estava sendo difícil negociar com a família.
Cada região é muito diferente da outra, muito mesmo, e já temos uma série de perguntas sobre as características que se tornaram quase padrão. Em alguns lugares as mulheres não podem deixar o ombro de fora, por exemplo. Homens e mulheres em geral não se encostam - pensem como é então uma consulta médica se você está desacompanhada. Os médicos são super cuidadosos em suas perguntas e exames, para que a paciente não fuja aflita, moralmente ofendida.
Depois de três semanas pouco observamos os lixos nas ruas, os tipos de vestimenta, e a diferença nos sabores. Parece que nos acostumamos a ficar aqui e com a diversidade do dia a dia. Ao mesmo tempo, como não podia deixar de ser, o início do carnaval trouxe mais saudades do Brasil...!