4/29/2008

Uma Aliança de Negócios para Reduzir a Desnutrição: Grameen Danone Foods

Uma Aliança de Negócios para Reduzir a Desnutrição: Grameen Danone Foods
Bangladesh

A mais inovadora experiência de Negócio Social tinha que surgir junto ao principal expoente do assunto: Prof. M.Yunus. Trata-se de uma joint-venture entre a empresa francesa de alimentos, Danone, e o grupo Grameen, de Yunus. As operações iniciaram no final de 2006. A fábrica localizada em Bogra, norte de Dhaka, capital de Bangladesh, adota um processo produtivo ambientalmente responsável.


Da idéia ao lançameto e sua implementação foi preciso um ano: uma primeira fase de preparação levou executivos da Danone para conhecer as iniciativas do Grameen em Bangladesh; após foram necessários alguns meses para juntar informações (pesquisas e estudos de viabilidade); a terceira fase foi essencial no desenvolvimento do projeto, uma vez que nesta definiu-se o conceito e criou-se o plano de negócios; o desenvolvimento do produto veio em seguida, processo que rendeu muitos aprendizados aos engenheiros da Danone que não estavam acostumados a pensar em fábricas com tecnologia acessível e que garantissem os mesmos padrões de qualidade de outros produtos Danone; finalmente, em novembro 2006, a fábrica foi inaugurada pelo jogador de football Zinedine Zidane.

Com o intuito de combater a desnutrição que aflige a população do país, a iniciativa pretende vender um iogurte rico em nutrientes (zinco, vitamina A, ferro e iodo), a um preço acessível (5 cents de euro por copo), assim como criar muitos empregos na região. O produto foi desenvolvido especialmente para atender as necessidades da população bangladeshi. Por se tratar de uma joint-venture entre os dois grupos, a empresa terá como fornecedores os clientes do Grameen e gerar empregos a, aproximadamente, 1600 comerciantes do Grameen que serão responsáveis pela venda dos produtos, em um sistema de distribuição de porta-em-porta.


Em nossa visita, ficou claro a complexidade de gerir um Negócio Social. De início, todas as boas práticas de negócios tradicionais devem ser repensadas para potencializar o impacto social do projeto. Ademais, deve haver uma grande dedicação à "capacity building" e um bom trabalho de revisão de processos de produção, logística e comercialização do produto. Exemplo que percebemos assim que chegamos em Bogra: as pessoas não sabiam ler, por exemplo, ou não tem acesso à radios e televisões. Como então fazer uma propaganda do produto? A solução encontrada foi utilizar cartazes com fotos explicativas dos benefícios do produto disposto nos pontos-de-venda e um sistema de divulgação direto nas comunidades. Quanto à logística, incluir os famosos Tuk-Tuks no sistema de distribuição foi uma solução de baixo custo, eficiente e geradora de renda.

No entanto, não apenas questões inerentes ao projeto afetam os resultados, mas também o ambiente econômico instável do país. Atualmente, a economia do Bangladesh apresenta uma alta inflação, dificultando a prática do preço inicial do produto. Recentemente, a JV Grameen-Danone Foods foi obrigada a aumentar o preço (para 8 cents de euro) para poder continuar suas operações. Quando estavamos lá, os indicadores já demostravam essa necessidade, mas os responsáveis do projeto estavam relutantes, uma vez que acessibilidade ao produto é essencial para obter os resultados sociais almejados.

Em 2008, mais duas fábricas estão previstas para serem inauguradas. Esse projeto definitavamente representa um avanço de dois mundos que há muito eram vistos como completamentes distantes: o mundo empresarial, inovador e voltado a resultados, porém pouco engajado socialmente, com o terceiro setor, altamente engajado, porém muitas vez dependente e pouco orientado para resultados.

Para o grupo Grameen, o projeto parece lógico, pois representa a busca pela sua missão e luta social que já desenvolve há anos com várias iniciativas. E quanto a Danone? Definitivamente, menos visível a uma primeira vista, pois ainda temos uma interpretação muito restrita da função social de uma empresa. A Danone compete com produtos diferenciados em um mercado maduro, estabilizado, tendendo a um declínio. Este projeto representa não apenas um projeto piloto inovador que utiliza o know-how da empresa para criar um impacto social de modo alinhado a missão do grupo, mas permite um posicionamento diferenciado no mercado. A Danone tem muito a ganhar ao obter acesso ao conhecimento do Grameen em como trabalhar com comunidades excluídas do mercado tradicional, ao testar um novo modelo organizacional que permite adentrar mercados antes invisìveis, ao permitir a reflexão da estratégia futura do grupo e ao promover a inovação dentro da empresa.

Além disso, a Danone recupera seu custo de capital inicial após três anos. A JV pretende ser rentável. Contudo, os lucros do negócio deverão ser reinvestidos. Mas o resultado esperado é: produzir um enorme impacto social, além do desenvolvimento econômico local.


Por Fernando Mistura
The 2.5 Sector Project
f.mistura@gmail.com

4 comentários:

Cyrano disse...

Uma coisa que me pareceu curiosa foi a definição de vocês para negócio social. Vocês dizem que ele pode assumir tanto um modelo com quanto sem fins lucrativos.

Acho que vocês estão flexibilizando um dos pontos mais fundamentais da definição de um negócio social, que é justamente o fim não-lucrativo: ou seja, a não-distribuição de dividendos. Ou talvez eu apenas tenha compreendido mal a definição de vocês...

Fernando Mistura disse...

Olá Cyrano,

O seu argumento é bastante válido. O modelo de negócios sociais proposto pelo Prof. Yunus realmente estabelece a não distribuição de dividendos, apenas a recuperação do capital.

No entanto, esta definição não é unânime. Há empreendedores sociais que defendem a idéia de retornos financeiros. Eles dizem que isto permite atrair um maior pool de capital, inclusive capital comercial, e portanto potencializar a escala e impacto de seus negócios sociais. As taxas de retorno exigidas em negócios sociais são "sustentáveis", ou seja, menores dos que as taxas de retorno comerciais.

De qualquer maneira, tanto no modelo do Yunus quanto nos demais, o lucro é central. Todos advogam que o lucro é necessário para que o negócio seja sustentável.

Espero que tenha esclarecido o porquê de nossa definição ser mais abrangente do que a do Yunus.

Abraços,
Fernando

Luciana Sodré disse...

Pelo que entendo de Social Business, o lucro não só nao é proibido, como também é necessário. O que nao pode é distribuir dividendos, nem retornar o investimento com qualquer tipo de ganho.

Google+ disse...


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O que é um Negócio Social?

Organização cuja missão é explícitamente de transformação social e que para isso adota estratégias de negócios geradoras de renda como principal veículo para atingir seu propósito social, impactando diretamente a vida de populações fragilizadas. Pode assumir um modelo com ou sem finalidade lucrativa, mas sua autonomia financeira é dada pela atividade-fim da empresa. Os principais campos de atuação são: alimentação, serviços financeiros, acesso à energia e água potável, desenvolvimento econônomico, saúde, etc.